Carta Recebida Numa Esquadra Brasileira
Senhor Delegado:
Não culpe ninguém pela minha morte. Deixei esta vida porque, por mais dias que eu vivesse, acabaria por morrer louco.
Explico porquê. Senhor Delegado, tive a desdita de me casar com uma viúva, a qual tinha uma filha. Se eu soubesse o meu destino, senhor delegado, jamais teria casado. O meu pai, para maior desgraça, era viúvo, e quis a fatalidade que ele voltasse a casar com a filha da minha mulher. Resultou daí que a minha mulher se tornou sogra do meu pai, a minha enteada ficou a ser a minha mãe, e o meu pai ao mesmo tempo meu genro.
Após alguns anos, a minha enteada deu à luz um menino, que se tornou meu irmão, porém, neto da minha mulher, de maneira que eu fiquei a ser avô do meu irmão.
Com o decorrer do tempo a minha mulher também deu à luz um menino, que, como irmão da minha mãe, era cunhado do meu pai e tio do seu filho, passando a minha mulher a ser nora da sua própria filha, e eu, senhor delegado, fiquei a ser pai da minha mãe, irmão do meu pai e do meu filho. A minha mulher ficou a ser a minha avó, já que era mãe da minha mãe. Sendo assim, senhor delegado, acabei por ser avô de mim mesmo.
Perante esta confusão, senhor delegado, a coisa complicou-se tanto que resolvi desertar deste mundo maluco.